sábado, 14 de fevereiro de 2015

Bierstacheln

Bierstacheln – algo como espetar a cerveja – é uma técnica centenária e muito popular na Alemanha, ainda que pouco difundida mundo afora. Em seu país de origem, atualmente é possível experimentar cervejas trabalhadas dessa forma principalmente nas feiras natalinas, sendo perfeita para quem não abre mão da cerveja mesmo em meio à neve e temperaturas congelantes. Essa técnica, conta-se, teve início nas antigas ferrarias da Idade Média. Nesses locais, como em muitas outras oficinas medievais, era costume os trabalhadores se alimentarem à base de cerveja ao longo da jornada de trabalho, e os ferreiros não eram exceção. Naquela época, devido à dificuldade de conservar a cerveja (vide post sobre porter), era usual armazenar a bebida no porão das casas e oficinas. Vez ou outra, porém, e principalmente no inverno, o ferreiro – ou o artesão em questão – não queria necessariamente beber a sua cerveja a temperaturas muito baixas, ainda mais em se tratando, por exemplo, de uma Bock ou Weizenbock. Foi daí que surgiu a ideia de mergulhar um espeto incandescente na cerveja para dessa forma esquentá-la levemente. Dessa forma surgiu a técnica do Bierstacheln, conforme disposto a seguir.




A barra de aço inoxidável, com cerca de 40cm de comprimento, em estado incandescente - a aproximadamente 600°C (aquecida por exemplo num bico de Bunsen) - é mergulhada na cerveja, e então são feitos movimentos circulares por aproximadamente 5 segundos, podendo ser menos (dependendo da temperatura da barra e da quantidade de colarinho desejada). Com o choque térmico, o açúcar residual disponível na cerveja carameliza quase que instantaneamente, intensificando em muito os tons doces maltados da cerveja, bem como, claro, as notas de caramelo, e removendo uma parcela de seu amargor. Além disso uma parte do gás carbônico se desprende, reduzindo a carbonetação percebida, e formando uma espuma muito densa, cremosa e alta, com bolhas pequenas e uniformes, além de ótima estabilidade e retenção. Devido a essa intensificação da espuma, é importante não preencher o copo por completo e evitar ao máximo a formação de colarinho, afim de permitir que a espuma venha a se desenvolver exclusivamente pelo stacheln.

Devido aos motivos citados, as cervejas que mais se adequam à utilização dessa técnica são aquelas que possuem açúcar residual, cervejas escuras e as Starkbier, como Bock, Weizenbock Eisbock e Doppelbock, mas também podem ser usadas cervejas Dunkel, Stout e Porter.



O uso dessa técnica traz consigo um quê de glamour nas rodas de apreciadores de cerveja, uma vez que o encontro da barra incandescente com a cerveja gelada, no copo adequado, cria uma certa expectativa e até mesmo um suspense de o que esperar da bebida assim que for dado o primeiro gole. Fato é que, assim que a barra é retirada, a cerveja permanece quase à mesma temperatura à qual estava anteriormente, não esquentando mais do que 1°C ou 2°C; por outro lado, a espuma adquire uma temperatura bastante elevada em comparação à cerveja, conferindo ao conjunto um contraste único. O segredo está em apreciar a cerveja gelada através da espuma, permitindo que corra por debaixo do colarinho quente, criando essa verdadeira “bagunça” gustativa e sensorial! Mas, é importante beber sem demora, uma vez que a espuma se resfria rapidamente em contato com a cerveja que por ela passa, de forma a perder sua estabilidade e dessa forma desaparecendo rapidamente.

O vídeo a seguir mostra de forma suscinta e clara o procedimento todo, fazendo uso de equipamentos muito simples e uma ilustríssima Aventinus da Schneider Weisse.



As fotos abaixo trazem dois tipos de dispositivos distintos empregados quando do uso da técnica em questão. A foto à esquerda mostra os “espetos com esfera”, cada vez mais difundidos, semelhantes a espetos de fondue, práticos para festas ou para deixar sobre a mesa ao longo da degustação. A foto da direita mostra um dispositivo completo, tradicional, e que lembra as barras de ferreiros. O bico de Bunsen é aceso, aquecendo assim as barras posicionadas logo à sua frente. Para evitar acidentes, uma pequena placa de metal evita a propagação da chama além das barras

 


Espero que tenham gostado, e se tiverem a oportunidade de experimentar uma cerveja que tenha sido gestachelt, não a deixem passar!

Nota: não encontrei nenhuma referência à essa técnica em textos em português, logo desconheço o nome tupiniquim dado a ela, tampouco sei se alguém a pratica por essas bandas. Se souberem de algo, deixem a dica nos comentários!

Wir hopfen alles Gute!
Wilhelm Stein

Referências

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